domingo, 23 de setembro de 2012

RAIZ




Não dá pra ver,nem notar,
Mas ela está
ali:
presa,
enterrada,
em meio às folhas.
A terra molhada,
adubo de sempre.
Estou preso
à ela,
Raiz de todos
os males
e bens.
Sem saber,
sem querer,fico cada vez mais
fincado nela.
Sua beleza está
acima,
no verde das folhas
no ar que transforma.
E tudo começa
nela,
muda raiz. 





segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Acordado entre nós



Tinha gosto de bala,
não sei se dela ou meu.
Tinha mãos molhadas,
quentes e frias,
um breu.

Mas era claro no escuro
e tinha cara de briga,
tinha gente no muro
uma lagoa, um chafariz
e eu

Tinha gente passando,
assobios covardes.
Tinha aula do lado,
e um livro aberto
errado.

Mas tinha ela
de trancinha e fita,
cheiro de amora,
 rosada e bonita

Sem resistir à tentação
daqueles olhos grandes
nos meus que viam
bem menos do que antes

Mas antes nada via
de verdade.
Foi depois da miopia
que me abriram os olhos

no inevitável contato
de lábios intrusos
com pressa e sem jeito,
sentidos difusos

Estava acordado
entre nós.
Dois corações parados

Olhos fechados,
Olhares espertos,
corações parados
e um eu desperto. .

E nunca mais dormi.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dedo de poesia

O dedo cutuca o bom cético:
É o pior inferno, tom frenético.
Se digo que cutucas, te aborreço,
então calo-me, respiro, eu mereço

E por que cutucas este dedo?
Nervoso, parece-me com medo
Pois devolvo-te o cutuco abonado
Com mais força me sinto vingado

Dedo, dedo, maldito sejas
És grande, branco, pálido,
que medo!

Que não sejas infinito,
posto que inflamas,
Mas que seja mortal
e não me fure.

Instantes imprecisos

Andando vou seguindo sempre insento
Profundos mares se agitam em pranto
Surge no alto monte é sempre espanto
Nesse abismo que se chama pensamento

Gosto de nada, num profundo lamento
Vazios extremos, nem mesmo um canto
Procuro um alguém, uma espécie de santo
Melhor calar-me no escuro sentimento

Mas como os sentidos vão se perdendo
Razão, direção, profundidade, intento
sugerem que o tempo está morrendo

E como não sou de viver de momento
Morro de súbito claro, remoendo
choros passados, futuro pavimento